GUARAMIRANGA “UM CONTO DE FADA”

Minha cidade é a mais bela das cidades, têm todas as ruas asfaltadas, ônibus e remédios de graça, índice zero de mortalidade infantil com o pré-natal feito na casa das futuras mamães. Crianças nas escolas, transporte escolar, ”ônibus viu” hospital e assistência odontológica gratuita. Um lugar sem homicídio e sem cadeia. Brigas e pequenos furtos raramente acontecem. Até mesmo o Delegado procurou outra ocupação para não entrar em depressão, a calmaria é grande dando lugar ao sono e a preguiça.

Minha cidade tem 4 mil habitantes, onde a agenda telefônica cabe na memória da telefonista da prefeitura. Nosso Gestor caminha a passos lentos pelas ruas da cidade cumprimentando populares depois de uma luta árdua para atender uma população que não pede nada e sim oferece ajuda. Seus assessores trabalham incansavelmente empregando o dinheiro público em prol do município em desenvolvimento. A cidade cresce.

A vida na minha cidade tem um ritmo diferente. Funcionários públicos dedicados atende a população com educação e carinho. Eu acordo todas as manhãs e vejo a nevoa que invade a cidade sorrateiramente, parece que estou no céu. Como a maioria, eu ganha um salário mínimo que nunca atrasa e que é suficiente para realizar o maior dos sonhos, a casa, financiada em 25 anos. Sobra dinheiro para pagar as prestações da geladeira, do carro, luz, água, telefone e a assinatura do jornal. Como todo bom brasileiro tenho meu nome limpo no Serasa “Graças a Deus. Sou chique no ultimo”.

Meus amigos estão de volta após viverem longos e conturbados anos na cidade grande. Já, servi cafezinho em casa de rico, lavei muitos carros para ganhar um trocado, mas hoje tenho vida de barão, tenho tudo que sonho. Meus filhos estudando nas melhores escolas. Contratei duas empregadas para cuida de minha casa, vou ao teatro para ver grandes nomes das artes cênicas e da música internacional, Tenho belas roupas e lindos filhos educados, por que não dize, formados já que em breve terá em nossa cidade uma faculdade.

E antes que eu finalizava meu discurso como deputado, escuto um barulho semelhante a uma bola de futebol chutada por Ronaldinho “O Fenômeno”, Dores intensas invadiram minhas costelas. E uma voz áspera toma conta de meus ouvidos. “Acorda, acorda ai gari! Vamos, vamos! Essa é a terceira vez que você vem embriagado para o trabalho! Que seja a ultima. Se eu encontrar você dormindo no banco da praça mais uma vez eu lhe ponho no olho da rua.” Era o meu chefe que me pegou dormindo e sonhando um conto de fada como todo bom e inocente eleitor.
Equipe: meu guará